5 Outubro 2007

«Conservadorismo» ou «Progressivismo» ? «Direita» ou «Esquerda» ?

1. Poderiam perguntar-nos – a partir de um dos falsos dilemas, estereótipos, etiquetas, rótulos e consequentes aporias criados por um certo sector de uma certa «ideologia moderna» (em lato sensu) – se as posições que defendemos em várias matérias (filosóficas, culturais, jurídicas, políticas, económicas, sociais, etc) são «conservadoras» ou «progressistas» ? Ou, num outro registo, respectivamente, de «Direita» ou de «Esquerda» ?

 2. A nossa resposta seria a de que, «hoje», não é possível encaixar num tal «Espartilho», meramente ideológico e dogmático, ou esquema binário-digital, a complexidade de posições que se adoptam, nas mais variadas matérias e assuntos, em muito diversos e distintos. No âmago mesmo da insuprimível dialéctica civilizacional entre «Conservação» e «Mudança» – e, sobretudo, superlativamente nas modernas sociedades hipercomplexas, dinâmicas, de mutação acelerada a abertas de cooperação e de mercado dos nossos dias, em que a «mudança» constante e sistemática pôs decisivamente em causa e tornou obsoleta qualquer «ideologia» dita, ou auto-proclamada, «progressista» – só se pode assumir posições, com uma ou outra coloração, em função dos «problemas» e das «áreas temáticas» diversas e variadas, sem prejuízo, é certo, da unidade e identidade integradas de uma qualquer «concepção global» e de uma «atitude fundamental».

3.Assim, concedendo embora – e tendo presente a afirmação de RALF DAHRENDORF de que «(…)O Liberalismo (o «Clássico» – muito especialmente, o da velha e britânica «Tradição Whig» -, que é aquele que adoptamos, básica e globalmente falando) é acerca da “mudança”, mas não da “revolução”, porque os liberais acreditam mais nas “pessoas” do que nos “sistemas”» – definiríamos, com alguma cautela, a nossa posição, ou concepção global, do seguinte e multifacetado modo:

Somos:

a) – «Conservador»: desde logo e em 1º. lugar, nos «afectos» e nos «vínculos inter-pessoais»; depois e consequentemente, na «Filosofia da Vida» («Levar uma Humana “Vida Boa”, entre Humanos» – é uma máxima ética de, por exemplo, um FERNANDO SAVATER, em Ética para um Jovem); na «Cultura», nos «Valores», «Princípios» e «Dimensões Normativas Fundamentais» (conservação das «boas tradições» e dos «bons costumes», com méritos comprovadamente reconhecidos); nas «Instituições Determinantes» (o «Estado-de-Direito» = Rule of Law, por exemplo); e no «Ambiente»: não só natural, como também cultural e humano – a tal «Ecologia Humana e Cultural» de que falou JOÃO PAULO II;

b) – «Liberal Comunitário» (Clássico) e «Cosmopolita», em Política e no Plano Social-Geral e Cívico mais alargado: incontornáveis «liberdade» e  «pluralismo» pessoais, éticos, axiológicos, religiosos, políticos, culturais, económicos e sociais e incomensurável «diversidade» de «formas-de-vida» humanas, culturais e sociais; mas, também, preocupação com a saúde, a vida e a unidade da «Comunidade», como «Comunidade Aberta» ou «Comunidade Liberal» (JOHN RAWLS; WILLIAM  A. GALSTON);

c) – «Social-Liberal» ou «Reformista», em «Economia»: mínima Política Económica do Estado, reguladora e integradora, mas subsidiária, complementar e pontual ou parcelar; Gradualismo Reformista Popperiano e indispensável Grelha Jurídica da Economia (também aqui a «Rule of Law»); tudo isto no quadro de uma «Ordem Cataláctica» descentralizada, plural, aberta, concorrencial e social de «Mercado» (Soziale Marktwirtshaft), fundada nas Categorias Económicas da «Propriedade», do «Mercado» e do «Dinheiro», mas orientada para a satisfação dos interesses sociais supremos, não só dos Trabalhadores e/ou dos Empresários, como sobretudo, dos «Consumidores» que somos, universalmente, todos nós;

d) – E, isso sim, «Progressista», em Ciência e em Tecnologia, sem iludir contudo os graves e melindrosos problemas éticos e deontológicos que também aqui se levantam. 

4. Por isso – e quanto ao mais -, confiamos, sobretudo, na livre espontaneidade, na originalidade, na criatividade e na dinâmica da própria «Vida» (ou seja, afinal, justamente no heideggeriano «deixar ser…»), bem como na enorme e imprevisível capacidade de «mudança», de «inovação», de «transformação» e de «risco» das «Pessoas» mesmas e das sociedades, quando verdadeiramente «espontâneas» e «livres» e só enquadradas por uma autêntica «Ordem de Liberdade» (Kosmos). Coimbra, Setembro de 2 007.

Virgílio de Jesus Miranda Carvalho.

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